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Desmagnetização de CD: Ciência ou Ficção?

 
     
  Dentre os poucos mitos que circundam os CDs, encontra-se a alegação de que a qualidade sonora de um CD pode ser aprimorada por meio de sua desmagnetização. Tal afirmação parece ter sido propagada por indivíduos oportunistas com o intuito de comercializar dispositivos ineficazes que prometem desmagnetizar um CD.  
  Até onde se sabe, não existe evidência que comprove a possibilidade de um CD ser magnetizado, tornando, portanto, sem sentido a tentativa de desmagnetizá-lo. Ademais, mesmo que um CD fosse suscetível à magnetização, não haveria nenhuma melhoria de desempenho ao desmagnetizá-lo.  
     
  Compreendamos o motivo:  
  Durante a fabricação do ‘Compact Disc’, os sinais de áudio, entre outros, são convertidos em bits e transferidos para um substrato plástico por meio de um processo de moldagem por injeção, resultando em gravações físicas na forma de depressões microscópicas na superfície do disco de policarbonato. Para isso, em uma máquina injetora, a resina de policarbonato virgem (como o Makrolon, por exemplo) é aquecida a uma temperatura próxima de 310 a 350 graus Celsius e injetada na cavidade do molde onde está instalado o disco ‘stamper’, o qual contém todas as informações a serem registradas no substrato de policarbonato. Ao esfriar, a resina apresentará as depressões microscópicas gravadas na face do disco. Esta superfície, posteriormente, recebe um revestimento fino de alumínio por pulverização catódica, em uma câmara de vácuo, formando um espelho capaz de refletir o feixe de ‘laser’.  
  O alumínio é um material apropriado, não apenas por suas características físicas, mas também devido ao seu custo reduzido. No entanto, um metal mais resistente à oxidação pode assegurar a integridade da camada reflexiva por um período mais longo. Por essa razão, o ouro de 24 quilates é empregado em alguns discos. A utilização de ouro não aprimora a qualidade sonora do CD, mas proporciona maior confiabilidade em longo prazo, mantendo a integridade dessa camada indefinidamente. Isso pode oferecer uma reprodução sem falhas no futuro, se comparado a um CD de alumínio que possa vir a sofrer oxidação devido a algum defeito em sua fabricação.  
  A camada reflexiva de alumínio ou ouro recebe, para sua proteção, uma fina camada de resina curada por radiação ultravioleta, que é distribuída uniformemente por centrifugação sobre o disco, a uma velocidade de 2500 a 3000 rotações por minuto. Finalmente, sobre esta camada é impressa a arte final ou rótulo do disco, utilizando o método serigráfico ou offset. As tintas utilizadas não contêm componentes significativamente magnetizáveis em sua composição, sendo geralmente totalmente livres desses elementos. Devido à sua espessura reduzida, o lado do rótulo é mais sensível a arranhões do que a face brilhante, por onde o ‘laser’ realiza a leitura.  
  O processo de fabricação aqui descrito foi concisamente resumido com base nas informações fornecidas pelos fabricantes de CDs.  
     
  Como é de conhecimento geral, o alumínio é um metal paramagnético e o ouro é diamagnético. Em termos práticos, a permeabilidade relativa desses materiais, bem como a do policarbonato, é próxima a 1. Isso significa que um campo magnético atravessa esses materiais quase como se eles não existissem e, o mais importante, é que eles não retêm magnetização.  
     
     
 
Os materiais empregados na fabricação do CD, como o policarbonato,
o alumínio e eventualmente o ouro, não são “magnetizáveis”.
 
     
     
  É importante observar que, ainda que houvesse magnetismo presente no disco, hipoteticamente falando, ele não conseguiria alterar as características físicas do CD. Isso inclui o deslocamento da posição das depressões gravadas no plástico, conhecidas como ‘pits’, ou a alteração de sua capacidade de refletir luz.  
     
  Supondo que um CD pudesse ser magnetizado e alguém cuidadosamente o desmagnetizasse, ele seria novamente magnetizado ao ser reproduzido, pois o ‘clamp’ do ‘Compact Disc Player’, geralmente, exerce sua força por meio de um ímã permanente. O ‘clamp’ é o mecanismo responsável por fixar e centralizar o disco no eixo do motor encarregado pela rotação do CD. Além disso, o conjunto magnético da unidade de focalização e rastreio do ‘laser’ varre a superfície do disco a uma distância de poucos milímetros.  
  Mesmo se alguns átomos de prata e níquel, provenientes do processo de fabricação do ‘stamper’, estivessem presentes no disco, ou se fosse eventualmente utilizada, para a impressão da arte final, uma tinta contendo algum componente magnetizável, a capacidade do CD de reter um campo magnético seria ínfima e dificilmente detectável. Isso não poderia interferir, de maneira alguma, no sistema de focalização e rastreio presente na unidade óptica e responsável pelo movimento da lente por onde passa o ‘laser’.  
     
  Apenas para concluir, é importante lembrar que os fótons não possuem carga, e por esse motivo, o feixe de ‘laser’ (light amplification by stimulated emission of radiation), que é essencialmente um feixe coerente de fótons, não tem sua trajetória alterada por campos magnéticos.  
     
  Como o leitor pode observar, não há fundamento na teoria de desmagnetizar CDs. Por conseguinte, tentar desmagnetizar um CD não trará nenhum benefício.
Desmagnetizar CDs é meramente uma ficção.
 
     
  Alguém poderia argumentar que se tentar desmagnetizar um disco não traz benefício, também não faria mal. No entanto, esse argumento é perigoso por alimentar uma fraude, que, como toda fraude, é prejudicial à sociedade. Além disso, muitos dos dispositivos comercializados como desmagnetizadores de CD, na verdade, não são desmagnetizadores. Portanto, eles não têm capacidade de desmagnetização. Esses dispositivos são geralmente mal construídos e podem riscar ou causar outros danos ao CD.  
     
  A verdadeira audiofilia é uma atividade respeitada, séria e extremamente agradável. Não deve dar espaço para fraudes e mitos que em nada contribuem para a apreciação da música. Portanto, é essencial que continuemos a buscar conhecimento e compreensão corretos, não nos deixando levar por mitos infundados. Assim, poderemos desfrutar de autênticos equipamentos de áudio, os quais nos permitem apreciar a arte da música como verdadeiros audiófilos.  
     
     
 
Fabio Mauricio Timi - 2024.06.09 - 1
 
   
Texto escrito originalmente em 2013 e revisado em 2024.06.09.
 
     
 
     
     
     
 
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